sábado, 25 de janeiro de 2014

"OS FATORES CONTRIBUINTES E OS TIPOS DE OCORRÊNCIAS DOS ACIDENTES ACONTECIDOS ENTRE O 2003 E 2012"

         A partir da observação do aumento constante e significativo dos acidentes no Brasil desde o ano 2003 até o 2012, surge a necessidade de analisar os dados , publicados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos -  CENIPA, referentes a os fatores contribuintes e tipos de ocorrências, como também as Ações Recomendadas emitidas em relação a essas variáveis, com o objetivo de levar ao leitor, conhecimentos que aumentem sua consciência situacional e o mantenha alerta no que se refere a segurança de voo.

         No período de 2003 a 2012 aconteceram 1026 acidentes com aeronaves civis de matrícula nacional, tendo acontecido nos últimos 4 anos (2009-2012) 556 acidentes, ou seja, mais da metade do total do período de 10 anos.





         No gráfico de fatores contribuintes pode se observar que o Julgamento, com 62,6%, é o fator que mais contribuiu nos acidentes. Essa porcentagem quer dizer que dos 1026 acidentes acontecidos no período, o Julgamento esteve presente em 642.
Na ordem decrescente vem os oito fatores que mais incidem nas ocorrências:

- Supervisão com 50,6%, presente em 519 acidentes;
- Planejamento com 46,3%, presente em 475 acidentes;
- Aspecto Psicológico com 37,7%, presente em 386 acidentes;
- Aplicação de Comandos com 27,9%, presente em 286 acidentes;
- Indisciplina de Voo com 25,2%, presente em 258 acidentes;
- Manutenção com 19,1%, presente em 196 acidentes;
- Pouca Experiência do Piloto com 17,6%, presente em 181 acidentes; e
- Instrução com 17,1%, presente em 180 acidentes.




         O Tipo de Ocorrência que mais ocasionou acidentes foi Falha do Motor em Voo com 21,6% e presente em 222 acidentes, seguido pelos três mais relevantes: Perda de Controle em Voo com 19,7% e presente em 202 acidentes; Perda de Controle no Solo com 11,5% e presente em 118 acidentes e CFIT com 9,6% e presente em 98 acidentes.
Esses quatro tipos de ocorrências representam 640 acidentes do total, ou seja, 62,4% do 100% de acidentes.

         Tudo indicaria que, se tomadas as ações corretas para trabalhar sobre os principais fatores contribuintes e, tipos de ocorrências, deveríamos presenciar uma diminuição nos acidentes que vem acontecendo. Lamentavelmente as estatísticas mostram mais uma vez que essa não é a realidade…
Até o mês de julho do ano 2013 aconteceram 103 acidentes o que indica que, provavelmente, fechamos o ano superando os 178 acidentes acontecidos durante o 2012. 

         As Ações Recomendadas são recomendações emitidas pelo CENIPA para o DECEA, CENIPA, ANAC e para as distintas organizações da aviação e DEVEM SER CONHECIDAS E CUMPRIDAS POR TODOS AQUELES AOS QUE SÃO DIRIGIDAS no intuito de eliminar ou mitigar os potenciais riscos.
As ações encontram-se publicadas na página web do CENIPA, no informe Panorama Geral e foram baseadas nos dados estatísticos das ocorrências.

A seguir as Ações Recomendadas para:

CENIPA

a)- Difundir a importância do Relatório ao CENIPA para Segurança de Voo (RCSV), de modo a aumentar a quantidade de informações disponíveis para a prevenção;
b)- Desenvolver estudos específicos para os diversos segmentos de aviação, tipos de operação aérea e atividades relacionadas, com a finalidade de obter informações que permitam a adequada priorização de recursos no desenvolvimento das tarefas de prevenção;
c)- Apoiar os SERIPA no desenvolvimento de atividades de prevenção de acidentes aeronáuticos, visando elevar o nível de alerta e difundir uma cultura de prevenção de acidentes na comunidade aeronáutica, em especial nos segmentos da aviação mais afastados dos grandes centros; e
d)- Desenvolver atividades de prevenção de acidentes aeronáuticos em nível nacional, visando incrementar o desenvolvimento da cultura de segurança.

DECEA

a)- Reforçar junto às organizações subordinadas a importância da utilização do Relatório de Prevenção e do Relatório ao CENIPA para Segurança de Voo, a fim de ampliar as informações disponíveis para a prevenção no âmbito do SISCEAB e do SIPAER;
b)- Incrementar o treinamento de Team Resource Management/Cockpit Resource Management (TRM/CRM) nas organizações subordinadas, a fim de melhorar a gestão dos recursos, especialmente em situações de emergência;
c)- Implantar atividades para elevar o nível de atenção e prevenir a ocorrência de acidentes do tipo Controlled Flight Into Terrain (CFIT), capacitando os controladores de tráfego aéreo a identificar situações potenciais de risco e tomar medidas preventivas oportunas;
d)- Revisar e aperfeiçoar as medidas para prevenção de incursão em pista, a fim de dotar os controladores de tráfego aéreo de instrumentos eficazes; e
e)- Revisar e aperfeiçoar os procedimentos de controle de tráfego aéreo nas áreas utilizadas pela aviação do petróleo (off-shore e on-shore), tendo em vista o aumento no volume de tráfego aéreo e a expansão da atividade para novas áreas.

ANAC
a)- Desenvolver legislação específica para as operações aéreas de Segurança Pública e de Defesa Civil, a fim de proporcionar um marco regulatório abrangente para este tipo de atividade;
b)- Incrementar a fiscalização da aviação geral, visando coibir a indisciplina de voo neste segmento;
c)- Aumentar significativamente a fiscalização e o controle das oficinas de manutenção de aeronaves, com a finalidade de verificar o cumprimento dos requisitos de homologação, bem como coibir desvios das práticas recomendadas;
d)- Revisar os processos de fiscalização e de controle das empresas de táxi- aéreo, visando assegurar que mantenham desempenhos compatíveis com os obtidos durante o processo de certificação;
e)- Desenvolver legislação mais detalhada para os operadores da Aviação Agrícola, visando estabelecer requisitos de treinamento dos pilotos e de acompanhamento das atividades aéreas;
f)- Aperfeiçoar os mecanismos de controle e acompanhamento dos aeroclubes e escolas de aviação, visando melhorar a padronização dos instrutores e a instrução ministrada;
g)- Desenvolver campanha de conscientização de proprietários de helicópteros quanto às consequências negativas da pressão para realizar manobras ou voos com risco elevado sobre as decisões operacionais dos tripulantes e da importância do treinamento de pilotos para a prevenção de acidentes; e
h)- Revisar os processos de certificação e acompanhamento das empresas de transporte aéreo regular que operam aeronaves a hélice, visando assegurar que sua operação atenda aos requisitos aplicáveis.

EMPRESAS DE TRANSPORTE AÉREO REGULAR

a)- Revisar e aperfeiçoar o Programa de Treinamento de seus tripulantes, em especial no tocante às emergências ocorridas no solo durante pousos e decolagens;
b)- Aperfeiçoar a supervisão do treinamento de seus tripulantes, a fim de detectar e corrigir dificuldades percebidas durante o processo de instrução;
c)- Reforçar em seus Programas de Treinamento os procedimentos previstos para a entrada em condições meteorológicas adversas em rota e durante decolagens e pousos; e
d)- Reforçar em seus treinamentos de CRM a coordenação de cabine adequada, em especial durante emergências, bem como a manutenção da consciência situacional, visando evitar acidentes do tipo CFIT.

EMPRESAS DE TÁXI-AÉREO

a)- Aperfeiçoar o controle da supervisão e execução dos serviços de manutenção de suas aeronaves, a fim de assegurar-se da conformidade com os requisitos previstos;

b)- Revisar e aperfeiçoar o Programa de Treinamento de seus tripulantes, visando assegurar-se de fornecer conhecimentos que possibilitem o julgamento e a tomada de decisão adequada, especialmente em situações de emergência;

c)- Atuar na cultura organizacional, a fim de reforçar a necessidade de cumprir os requisitos aplicáveis e coibir desvios;

d)- Melhorar o acompanhamento de seus voos, visando incrementar o apoio à tomada de decisão de seus tripulantes, bem como coibir a prática de desvios da rotina operacional da empresa; e

e)- Incentivar o uso do Relatório de Prevenção e do Relatório ao CENIPA para Segurança de Voo, visando aumentar a quantidade de informações disponíveis para a prevenção de acidentes.

EMPRESAS DE AVIAÇÃO AGRÍCOLA
a)- Aperfeiçoar a supervisão das operações aéreas, visando orientar os pilotos no tocante ao cumprimento dos procedimentos padronizados e em relação à tomada de decisão;
b)- Aperfeiçoar o processo de planejamento dos voos, a fim de que os tripulantes estejam preparados previamente para a operação e conheçam a área a ser sobrevoada e suas características;
c)- Aperfeiçoar o Programa de Treinamento dos pilotos, com a finalidade de fornecer informações sobre a operação aérea que permitam o julgamento e a tomada de decisão adequada durante os voos;
d)- Atuar na cultura organizacional do grupo, valorizando o comportamento conservativo e o cumprimento dos procedimentos padronizados; e
e)- Incentivar o uso do Relatório de Prevenção e do Relatório ao CENIPA para Segurança de Voo, visando aumentar a quantidade de informações disponíveis para a prevenção de acidentes.

AEROCLUBES E ESCOLAS DE AVIAÇÃO
a)- Aumentar significativamente a supervisão das atividades de instrução aérea, visando acompanhar as dificuldades dos alunos e orientar os instrutores;
b)- Revisar e aperfeiçoar o Programa de Formação dos pilotos, a fim de fornecer o conhecimento e o treinamento necessários ao julgamento adequado durante o voo, bem como a proficiência na execução das manobras, tanto em situações normais quanto em emergência;
c)- Revisar e aperfeiçoar o Programa de Formação de instrutores, com ênfase na padronização e nas ações de intervenção nos comandos da aeronave antes do ponto de irreversibilidade do erro;
d)- Melhorar o planejamento dos voos de instrução, visando possibilitar o preparo antecipado dos alunos para as manobras a serem executadas; e
e)- Aperfeiçoar a supervisão e a execução dos serviços de manutenção de suas aeronaves, com ênfase nos serviços realizados nos motores das aeronaves, a fim de assegurar-se da conformidade com os requisitos aplicáveis.

ORGANIZAÇÕES POLICIAIS E DE DEFESA CIVIL
a)- Aperfeiçoar o Programa de Treinamento dos tripulantes, definindo requisitos mínimos para a elevação operacional;
b)- Revisar e aperfeiçoar os procedimentos padronizados para o uso das aeronaves em operações policiais e de defesa civil, visando fornecer orientações seguras aos tripulantes nas variadas situações vivenciadas em sua rotina;
c)- Atuar na cultura organizacional, valorizando o comportamento conservativo e o cumprimento dos procedimentos padronizados; e
d)- Incentivar o uso do Relatório de Prevenção e do Relatório ao CENIPA para Segurança de Voo, visando aumentar a quantidade de informações disponíveis para a prevenção de acidentes.

OFICINAS DE MANUTENÇÃO DE AERONAVES
a)- Revisar e aperfeiçoar os processos de supervisão e execução da manutenção de aeronaves, a fim de assegurar-se do cumprimento dos requisitos aplicáveis;
b)- Revisar e aperfeiçoar o Programa de Treinamento dos mecânicos, a fim de fornecer o conhecimento necessário à adequada execução das tarefas de manutenção; e
c)- Incentivar o uso do Relatório de Prevenção e do Relatório ao CENIPA para Segurança de voo, visando aumentar a quantidade de informações disponíveis para a prevenção de acidentes.


          Mais uma vez devemos reforçar o conceito de que TODOS NÓS CONTRIBUÍMOS PELA SEGURANÇA DE VOO.
Não deixe de treinar e estudar, sobre todas as diferentes situações de emergência, isso permitirá que em caso de ter que enfrentar uma emergência real você esteja mais preparado e consiga julgar apropriadamente a ação a ser adotada.
Não deixe de fazer um correto e completo planejamento de voo e não cometa indisciplina durante a operação da aeronave, são coisas simples que salvarão a sua vida e a de seus passageiros.


VOE COM SEGURANÇA!




Flavio Moreno
Equipe Segurança da Aviação Civil


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